Do Rio -- Um dos pontos vulneráveis do Rio de Janeiro para a realização dos Jogos Olímpicos era o seu sistema viário e de transporte público. A Linha 4 do Metrô foi concluída em cima da hora e sequer houve tempo para a realização de testes. Outras obras como o BRT Transolímpica e o Lote Zero, que completava a ligação entre o Metrô e o BRT Transoeste, também ficaram prontos a menos de um mês da abertura dos Jogos. Temia-se o caos nas ruas da cidade, com interdições e faixas seletivas em toda a cidade para garantir a circulação das delegações.
No entanto, a nova estrutura de transportes funcionou bem, apesar de haver em média 342 quilômetros de vias interditadas durante os Jogos. Segundo a Prefeitura do Rio, na verdade, o volume de tráfego na cidade teve uma queda de 11% no período das Olimpíadas. Parte disso se deveu à suspensão ou redução de atividades de empresas locais, motivadas a antecipar férias de funcionários no período, além das férias escolares. Mas trata-se também de um sinal de que as melhorias no sistema de transporte coletivo funcionaram.

As várias linhas de BRT receberam um número recorde de passageiros. Foram 11,7 milhões de pessoas circulando no sistema entre os dias 5 e 21 de agosto, que serviram como teste de estresse para o modal criado para compensar a escassez de metrô. Também foi registrado o recorde de passageiros em um só dia: 855 mil.
“O maior desafio era justamente a integração com o Metrô”, explica Suzy Ballousier, diretora de Relações Institucionais do Consórcio BRT. Para absorver o grande volume de passageiros que desembarcavam do Metrô em busca de uma conexão até o Parque Olímpico, o consórcio aumentou a frequência dos carros e conseguiu atender à demanda.
“Isso nos dá confiança de que podemos atender uma demanda maior”, avalia Suzy. Ela acredita que o número de passageiros no BRT deve crescer nos próximos meses, mas que as novas linhas darão mais equilíbrio ao sistema, oferecendo mais opções aos passageiros e redistribuindo a demanda entre mais linhas.
Outros recordes positivos foram alcançados no sistema de transportes carioca. O Metrô transportou 13,9 milhões de passageiros no período dos Jogos, tendo batido a marca de 1 milhão de passageiros/dia por cinco vezes.
Já os trens urbanos da Supervia transportaram 9,8 milhões de pessoas no período, com mais de 2 mil viagens extras para atender a demanda dos espectadores nas competições noturnas.
Enquanto isso, no VLT, mais de 720 mil pessoas foram transportadas no trecho de 18 quilômetros entre a Rodoviária e o Aeroporto Santos Dumont, que corta a região central nas proximidades da orla.

Mas a Olimpíada é passado. O novo teste para o sistema viário e de transporte da cidade acontece em setembro, quando recomeçam as interdições e as faixas seletivas, para receber o rodízio da Tocha Paralímpica e para a Abertura dos Jogos, no dia 7. O esquema de trânsito, no entanto, será menos abrangente, com faixas seletivas especiais funcionando apenas na região da Barra da Tijuca.
Dois dos quatro serviços especiais de BRT funcionarão das 5 da manhã até 1 da madrugada. Para atender os passageiros que vão assistir às competições noturnas no Parque Olímpico, a Linha 4 do Metrô terá embarque estendido também até a 1 hora, na estação Jardim Oceânico. As demais estações metroviárias estarão abertas somente para desembarque, até que o último trem saia do Jardim Oceânico.
A FGV calcula que a entrada em funcionamento da Linha 4 do Metrô vai gerar uma economia de R$ 833 milhões por ano em deslocamentos. O tempo de viagem entre a Barra e o Centro da cidade cairá da média de 2 horas para cerca de 40 minutos. A linha, que liga Ipanema à Barra da Tijuca, funcionará depois das Olimpíadas no período de 11h às 15h.
Outro legado viário importante para a cidade é a Via Expressa, que substitui o antigo Elevado da Perimetral, derrubado para dar lugar à reforma urbana da região portuária. Finalizada em julho, com a abertura do Túnel Marcelo Alencar, a Via ajudou a desafogar o fluxo nos Túneis Santa Bárbara e Rebouças, duas importantes vias de ligação entre a Zona Sul e o Centro. No horário da manhã, a redução chega a 30% no Santa Bárbara e 20% no Rebouças.
Ainda que positivo, o legado das obras, no entanto, não disfarça a incômoda situação financeira do Estado do Rio. Pouco antes das Olimpíadas, o governador Francisco Dornelles chegou a declarar estado de calamidade pública, em uma manobra para obter verbas federais que permitissem ao governo estadual cumprir compromissos ligados à realização dos Jogos.
A situação fiscal continua crítica, e especula-se que o governo do estado poderia pedir falência. “A falência de um estado da federação seria algo inédito e com consequências jurídicas e políticas muito graves para o país”, avalia Alexandre Espírito Santo, economista da Órama Investimentos.
Espírito Santo acredita que as Olimpíadas não foram decisivas para a situação pré-falimentar do Rio de Janeiro, mas tampouco ajudaram nas contas estaduais. “Quando o Rio de Janeiro assumiu o compromisso de realizar os Jogos, o Brasil decolava na capa da Economist”, lembra.
Depois, veio a recessão no Brasil e a queda do preço do petróleo no mercado internacional, atingindo duplamente a economia fluminense. “A situação é grave em todos os estados, mas é particularmente séria no Rio de Janeiro. Não há como aumentar a arrecadação e as despesas estão engessadas. Vamos viver dias difíceis”, prevê o economista.